"Com uma nesga de luz da lua, Lucio vê sua biblioteca. Parte do reboco caiu; por isso na porta mal dá para ler a palavra BIBLIOTE; as duas últimas letras amanheceram em pedaços ao chão depois de uma noite comum, sem nenhuma força especial que as derrubasse, salvo a idade e o abandono, letras que ele mesmo tinha escrito com piche e mão vacilante no dia em que recebeu a primeira remessa de livros: quinhentos e sete exemplares, dos quais somente cento e trinta passariam às estantes. Os demais receberiam o carimbo de censurados."
"Mais cedo ou mais tarde vai chover, diz Lucio, porque chega a temporada, porque a umidade e os ventos e a pressão do ar, porque finalmente virão nuvens tão carregadas que conseguirão transpor a serra del Fraile sem despejar tudo em Villa García. E o povo desatará a dar graças a Deus em vez de criticá-lo por tantos meses de esquecimento."
"Lucio para diante do abacateiro e aponta para as raízes. Aqui está Babette, diz; choveu e logo o verde voltará a Icamole, mas esta árvore nunca perdeu a cor nem a seiva. Babette é prosa que é poesia; é a ideia de um baile que não foi celebrado, um amante que nunca chegou, um guarda-chuva na memória do tio André, é a mãe que pergunta onde está, é a palavra Babette, imutável mesmo traduzida para vinte idiomas, tanto faz se impressa com tipos romanos, itálicos ou helvéticos; mas Babette também é três quartos de água, matéria orgânica, é intestino com fezes a meio caminho que agora são fertilizante; Babette é nitritos, saliva e suor e lágrimas e urina, é fósforo e cálcio e ferro e potássio, e pelos e mucos; é o último jantar no estômago."
"(...) sempre há mais livros que vida. Os impressores poderiam estar em greve há 10 anos e ninguém notaria."
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